Após as explosões na Praça dos Três Poderes, que estremeceram Brasília na noite de quarta-feira (13/11), funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmam que o órgão não tem recursos suficientes para detectar, de forma apropriada, possíveis ameaças terroristas no Brasil. O relato é de servidores do órgão, que falaram com o Metrópoles sob condição de anonimato.
O principal órgão de inteligência do país, dizem os funcionários, enfrenta um processo de sucateamento desde 2020, com a situação se estendendo entre os governos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Antes de explodir artefatos no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Câmara dos Deputados, e se detonar em seguida, Francisco Wanderley Luiz fez publicações nas redes sociais dando sinais de que poderia realizar um atentado.
Funcionários explicam que o monitoramento e a detecção de ameaças em redes sociais com potenciais para se tornar reais, depende muito de ferramentas tecnológicas e do cruzamento de informações em banco de dados.
De acordo com funcionários, a Abin atualmente enfrenta dificuldades em vigiar possíveis ameaças pela falta de softwares adequados. Além disso, servidores do órgão afirmam que até mesmo o acesso a sistemas como o Infoseg, que integra informações de órgãos de segurança pública, Justiça e fiscalização de todo o país, tem sido dificultado nos últimos anos.
Falta orçamento e pessoal
Em nota divulgada na quarta-feira (13/11), a União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis), pontuou questões que podem inviabilizar o trabalho do órgão caso não sejam resolvidas.
Além da falta ou restrição de ferramentas tecnológicas, a Intelis afirma que dois dos principais problemas do órgão são a falta de orçamento e de pessoal. Segundo a nota, o orçamento da Abin é o menor nos últimos 14 anos, enquanto 80% dos quadros da Abin estão desocupados atualmente.
A estimativa é de que cerca de 1,1 mil pessoas sejam responsáveis por cuidar de todo serviço de inteligência brasileiro.
Ao Metrópoles, servidores do órgão afirmam que a situação tem afetado desde a manutenção do espaço da Abin, onde plantas não estão sendo regadas por falta de água, até missões importantes como o acompanhamento de autoridades em viagens e compromissos.
“O Lula viaja para vários lugares, mas a Abin não tem acompanhado por falta de pessoal e verba”, disse um funcionário da instituição. “No G20, por exemplo, estamos atuando de longe, sem equipe de campo.”
Rui Costa e diretor da Abin
Após sair da aba dos militares em 2023, após o governo Lula desvincular a Abin do GSI e passar o controle do órgão para a Casa Civil, a expectativa de funcionários era de que a situação da instituição pudesse melhorar sob o controle de um ministro civil.
No entanto, relatos indicam que a relação entre a Abin e o ministro Rui Costa, que comanda a Casa Civil, tem sido quase inexistente.
“O ministro [Rui Costa] nunca foi lá dentro [da Abin]”, relata um fonte.
A administração do atual diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa, também tem sido alvo de críticas.
Informações apontam que o órgão passou por um processo de burocratização que tem impedido um bom trabalho da Abin desde 2023, quando Fernando Corrêa assumiu o comando da instituição.
“Não sei se foi uma missão, ou se é uma visão dele [diretor-geral] de travar tudo aqui dentro”, diz um servidor do órgão.
Fonte: Metrópoles