Nas últimas duas semanas, a Marinha Portuguesa realizou uma operação sem precedentes de monitorização e acompanhamento de embarcações russas em águas portuguesas. Foram detectados nove navios do Kremlin e entre eles estava o navio-espião
A Marinha Portuguesa detectar a presença de navios russos em águas nacionais não é novidade nenhuma, mas deparar-se com um navio-espião às ordens do Kremlin, como aconteceu na última operação, é menos comum e deixa uma dúvida no ar: é motivo de preocupação?
O comandante João Fonseca Ribeiro, do Observatório de Segurança e Defesa da SEDES, considera que a presença desta embarcação em águas portuguesas é "trivial". "Se me dissessem que havia movimentações de submarinos, em maior escala, isso poderia ser outra questão", destaca em declarações à CNN Portugal.
Fonseca Ribeiro é oficial da Marinha com mais de 25 anos de serviço com larga experiência em comunicações, sistemas de informação e cooperação internacional. O responsável explica que “o que normalmente um navio deste tipo tenta fazer é a interceção de comunicações, que podem estar a ocorrer em navios, mas, se tiver sensibilidade para isso, também pode tentar intercetar comunicações em terra".
"Um navio-espião com sistemas de vigilância modernos pode intercetar redes de telemóvel, redes HS e VHS. Agora, normalmente, esse tipo de tarefas podem-se fazer em terra com muito mais discrição, não é preciso pôr-se aqui um navio", argumenta.
Para o especialista, o mais provável é que esta embarcação estivesse meramente em "trânsito entre o Mediterrâneo e o Mar do Norte, o Ártico, ou o Mar Báltico". O comandante Fonseca Ribeiro recorda ainda que "sempre que há exercícios navais da NATO estes navios também vão para o mar tentar intercetar as comunicações das forças", o que demonstra que estas são "missões tradicionais".
"Quando estava anunciado um exercício naval da NATO de uma escala considerável, havia sempre a presença de navios-espiões russos junto à força. Faziam acompanhamento e, no passado, normalmente, os navios-espiões que faziam acompanhamento eram os chamados da classe Moma", conta.
A operação da Marinha decorreu ao longo das últimas duas semanas e o comandante lembra que há um outro fator que pode ter motivado a deslocação do navio-espião para águas nacionais: a "crise no Irão".
A Marinha não especificou a localização exata da embarcação, mas João Fonseca Ribeiro refere que "a Base das Lajes é uma questão particular e que estão ou já estiveram a haver movimentações para o Médio Oriente", recordando que os EUA enviaram Boeings B-52 Stratofortress para Israel.
Fonte: CNN Portugal