Quem vivenciou os anos de chumbo, como era chamado o período da ditadura militar, sabe o quanto era difícil se reunir, reivindicar ou até mesmo questionar qualquer atitude dos governos militares que aqui ditavam as regras. Na década de 1970, auge do regime, enaltecer um herói negro que lutava por liberdade quando o Brasil vendia imagem de paraíso racial usando como exemplo o rei Pelé, foi mais que uma ousadia: deu início a um basta no “13 de Maio”, até então comemorado como sendo o dia da “libertação dos escravos”.
Desafiando o autoritarismo e o regime militar daqueles tempos nefastos, um grupo de negros no Rio Grande do Sul, o “grupo Palmares”, resolveu que o dia de celebrar a liberdade negra não seria mais como as escolas nos municípios e dos estados faziam nos obrigando a referendar uma princesa branca no 13 de maio, nascia aí o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. De lá para cá, muitas coisas mudaram o grupo, que, por sinal, tinha como liderança mais marcante um poeta já falecido, Oliveira Silveira, que passou a ser apenas a referência do nascedouro do 20 de novembro.
Até 30 de novembro, o Dia da Consciência Negra era feriado ou mesmo ponto facultativo em alguns estados, e em milhares de municípios brasileiros. Esses feriados locais e estaduais ainda encontravam muita resistência, principalmente pela tensão que o setor do comércio exercia, alegando sofrer prejuízos. E, quando não era boicotado, tentavam derrubá-lo com medidas cautelares.
Parte deste setor alegava “prejuízo” e desdenhava não somente do herói da pátria, Zumbi, mas também da população negra, esquecendo-se de um movimento silencioso, que ocorria não mais apenas na esfera do movimento negro e, sim, por diversas instituições privadas públicas e da sociedade civil, fazendo de Zumbi dos Palmares um ícone dos nossos tempos, estudado inclusive em instituições educacionais.
O agora feriado nacional de 20 de novembro é caso único no país! É a história de um herói negro, resgatado por entidades do movimento social, que uniram negros e brancos de várias tendências políticas e credos religiosos. Enfim, foi possível, em um país tão dividido, se fechar em um bem comum. Que venham outros exemplos como este e que possamos mudar o nosso futuro com mais igualdade, diversidade e inclusão.
Créditos: CNN Brasil